A pequena capela do Hospital Militar de Caracas, onde o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, está internado, amanheceu repleta de fiéis após o anúncio de que seu estado de saúde piorou e que a situação é “delicada”.
Mulheres e homens de meia idade circulavam logo cedo pelo pequeno templo ecumênico. Na chegada, tiravam de seus bolsos pequenas fotografias do presidente. Alguns rezavam por alguns minutos, em silêncio, e saiam.
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Outros permaneciam ali, repetindo de maneira incessante a mesma oração. “Abençoa o nosso presidente senhor, ele é bom com os pobres. Repreenda aqueles que estão contra ele. Faça-o levantar em nome de Jesus”, rezava uma senhora, enxugando as lágrimas do rosto. “Salva meu presidente.”
Na noite desta segunda-feira, o governo informou que o estado de saúde do presidente é bastante delicado, em consequência de uma nova “severa” infecção respiratória. O executivo afirma que Chávez está sendo submetido a sessões de quimioterapia de “forte impacto”.
Capela construída às pressas
“Estamos muito tristes, mas confiamos em Deus. Aquele que cuida do pobre será salvo e Chávez vai se curar”, afirmou à BBC Brasil o pastor evangélico Domingo Vargas, um dos primeiros a chegar na capela na manhã desta terça-feira. Ele viajou cinco horas até a capital Caracas “para orar pela salvação do presidente”.
Chávez retornou ao país há duas semanas depois de dois meses internado em Cuba. Desde então, vem enfrentando um delicado processo pós-operatório, marcado por sérias crises respiratórias e de funções vitais.
Esta é a segunda grave infecção respiratória que Chávez sofre desde que foi operado pela quarta vez para combater um câncer.
Construída às pressas no estacionamento que dá acesso ao hospital, a capela foi inaugurada na sexta-feira por familiares do líder venezuelano e membros do gabinete. Durante uma missa na capela, que foi transmitida pelo canal estatal, o semblante triste de uma das filhas de Chávez reforçou os rumores de que o estado de saúde do presidente havia piorado.
Sucessão
“Sentimos como se fosse um familiar nosso, é muito duro o que está acontecendo. Se hoje tenho saúde é porque pude fazer várias cirurgias mesmo sem ter um centavo. Antes dele (Chávez), morríamos à míngua.“
Jeisy Romero, dona de casa
Com os olhos avermelhados, a dona de casa Jeisy Romero trazia na mão uma fotografia de Chávez. Ela disse ter esperança na recuperação do líder venezuelano.
“Sentimos como se fosse um familiar nosso, é muito duro o que está acontecendo”, afirmou Romero à BBC Brasil. “Se hoje tenho saúde é porque pude fazer várias cirurgias mesmo sem ter um centavo. Antes dele (Chávez), morríamos à míngua”, disse.
Resistindo a contemplar a ideia de que Chávez poderá deixar a Presidência, Romero afirma que votará pelo vice-presidente Nicolás Maduro, caso novas eleições antecipadas tenham que ser convocadas. “Por algo ele (Chávez) colocou Maduro (na vice-presidência) nesse momento tão difícil. Ele sabe o porquê e nós confiamos nele”, afirmou.
Antes de viajar à Cuba para ser operado, em dezembro, Chávez disse que se caso “algo” lhe acontecesse, seu “sucessor” nas urnas deveria ser o vice-presidente, Nicolás Maduro. Ex-chanceler e visto como um dos homens leais ao presidente, Maduro tem sido exposto quase que diariamente às câmeras de televisão inaugurando obras governamentais e pronunciando longos discursos, nos quais tenta emular o tom do líder venezuelano.
Até segunda-feira, o governo insistia em afirmar que Chávez continuava dando ordens, porém, tanto dirigentes chavistas como opositores já antecipam um clima de campanha eleitoral.
A oposição ainda não se posicionou oficialmente, mas o presidenciável mais cotado para representar o antichavismo é o ex-candidato à presidência e atual governador do Estado de Miranda (norte do país), Henrique Capriles, que foi derrotado por Chávez nas urnas em outubro do ano passado.
De acordo com pesquisa realizada pela empresa Hinterlaces, 50% dos venezuelanos votariam em Maduro se as eleições fossem hoje, contra 36% dos eleitores que optariam por Capriles.
Incerteza
A informação sobre a piora da saúde do presidente na segunda-feira rompeu um silêncio de dias, mas a incerteza sobre a saúde do presidente aumenta.
“Não podemos continuar nessa angústia. O governo deve dizer se ele vai continuar ou não. Estamos todos preocupados”, afirmou à BBC Brasil o estudante Gustavo Linares, em uma padaria do leste da capital, reduto opositor.
O hermetismo com que a doença vem sendo tratada é criticado pela oposição, que tem exigido “toda a verdade” sobre a evolução do câncer e o futuro da Presidência.
O secretário executivo da coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática, Ramón Guillermo Aveledo, considera imprecisa a informação sobre a saúde do presidente e diz que o comunicado do governo contribui para aumentar a onda de rumores.
Devido à doença, Chávez não tomou posse em seu novo mandato no dia 10 de janeiro. Em uma decisão inédita, o Supremo Tribunal de Justiça determinou a continuidade administrativa do governo e adiou indefinidamente a posse, à espera da recuperação do presidente.
Chávez não é visto ou ouvido em público desde 8 de dezembro, quando viajou a Cuba para submeter-se à sua quarta cirurgia.