Quem não conhece Ponte Nova, e chega à cidade via Ouro Preto/Mariana, tem as suas primeiras impressões da cidade ainda na altura da sede campestre do clube Primeiro de Maio. Mais um pequeno trecho e um trevo rodoviário indica a chegada às ruas da urbe. Ali fica o início do anel rodoviário e, em todo o mundo, os anéis rodoviários já se transformaram em vias características de todas as sedes de municípios onde o trânsito é, por si só, mais intenso. Têm a finalidade precípua de evitar o tráfego de veículos pesados nas vias urbanas, em cujos subsolos está um emaranhado de redes pluviais, sanitárias e de distribuição de água. Chegando ao Bairro Sagrado Coração de Jesus, conhecido popularmente como “Bairro Pacheco”, o visitante calouro percebe naqueles últimos metros da via intermunicipal o protótipo de um bairro de periferia. Enfim, chegamos a Ponte Nova. Até então nada que deslumbre, mas também nada que apavore aquele que vem a Ponte Nova pela primeira vez.
Quando esse visitante calouro irrompe nos arredores onde está a ponte que deu nome à cidade, e mais precisamente se isso ocorre após as 21 horas, então suas primeiras impressões sofrem um terrível abalo. A região onde fica a antiga estação rodoviária é o cartão de visitas de Ponte Nova e poderíamos compará-la à recepcionista de qualquer empresa ou entidade que deve estar bem trajada, ter uma boa dicção sempre destituída de vícios de linguagem, estar sorridente e, enfim, fazer com que o visitante seja, de fato, bem-vindo a Ponte Nova. Infelizmente não é isso o que acontece. Aquele setor principal da sede do município, mormente no período noturno, tem o poder de espantar definitivamente qualquer visita à nossa cidade. Prostituição desenfreada, uso e tráfico de drogas intensos, pedintes embriagados e/ou sob efeito de narcóticos insurgindo-se nas portas dos veículos que por ali transitam e que, invariavelmente, têm de manter seus vidros protetores fechados, brigas, arruaças, sujeira, policiamento insuficiente e tudo o mais.
Até a década de 1980, quando ali ainda funcionava todo o terminal rodoferroviário de Ponte Nova, aquele local já era evitado pela população devido à sua proximidade com a antiga zona do meretrício. Depois, tivemos a extinção da ferrovia e a mudança da estação rodoviária para um local onde a intenção era que os coletivos chegassem ao anel rodoviário via Bairro do Triângulo e, assim, evitar-se-ia seu tráfego pelas ruas da cidade. A verdade é que os ônibus continuam a trafegar pela avenida que dá acesso à antiga rodoviária, entalando-se nas pontes e afunilando o trânsito. É preciso lembrar-se de que as nossas ruas foram sendo abertas a esmo para atender-se o trânsito dos primeiros anos do Século XX, época em que por ali passavam, no máximo, trinta ou quarenta veículos por dia. Eram tempos em que ainda não existiam sequer as folclóricas jardineiras, os caminhões de carga não excediam a sete toneladas e os veículos de tração animal pontificavam.
Ponte Nova, em todo o contexto do Brasil atual, sofre as consequências do fim de nossas ferrovias, levado a efeito pelo movimento militar de 1964 que tinha de cumprir as cláusulas dos financiamentos de Tio Sam: rodovias, nada de ferrovias!!! Os fabricantes de autopeças yanques tinham de expandir seu mercado. Essa extinção das ferrovias fez com que as montadoras tivessem de fabricar veículos cada vez maiores e mais pesados. Um bom exemplo em nossa cidade está no início da ponte situada no final da rua Senador Antônio Martins. Aquela ponte tem sua pista de rolamento em ângulo contrário à direção do trânsito que emerge do Bairro de Palmeiras. Ali, ao realizarem a conversão para terem acesso à ponte, os veículos pesados imprimem uma força de atrito descomunal em suas rodas, força esta que toda e qualquer pavimentação está longe de suportar. Então, o resultado é um eterno conserta para quebrar de novo. E a interdição da Barrinha veio contribuir para um agravamento de tudo.
Já não seria tempo de nossas autoridades desviarem a atenção para aquele setor da cidade que é o seu cartão de visitas? Parece que um bom começo seria a demolição das dependências da antiga rodoviária, um conjunto arquitetônico obsoleto e de feio aspecto, para dar lugar a uma praça de lazer arborizada e nos moldes do jardim de Palmeiras; depois, a desapropriação de imóveis ao longo do leito da antiga ferrovia de modo a termos uma ampla avenida que tivesse início nessa praça e desembocasse no novo terminal rodoviário; a restauração do histórico Hotel Glória, para transformá-lo em um centro cultural; a demolição da ponte na Rua Senador Antônio Martins e sua reconstrução em ângulo de afinidade com a localização da praça; os incentivos tributários ao estabelecimento ali de um bom setor comercial dos do tipo “calçadão”. Como seria agradável chegar-se a Ponte Nova e contemplar esta bela praça aos pés da matriz de São Sebastião exibindo nas alturas a sua maquiagem gótica!!!! Falar é fácil… fazer é que são elas, o prezado leitor já deve estar meditando. Mas, lembremo-nos de que muitas obras como Brasília, a transposição da capital do país para o centro do território nacional, surgiram de sonhos como este. JK, um dia, também foi taxado de visionário. E nós sonhamos apenas com um cartão de visitas mais digno para a nossa princesinha da mata.