A Polícia Federal (PF) desarticulou, ontem, sete quadrilhas que cobravam de R$ 25 mil a R$ 80 mil por um gabarito do vestibular para o curso de medicina em faculdades privadas e estaduais. Um desses grupos já atuava há mais de 20 anos, segundo o delegado Leonardo Damasceno, chefe do Núcleo de Inteligência Policial da PF do Espírito Santo.
A operação Calouro foi desencadeada em dez Estados, incluindo Minas Gerais, e no Distrito Federal, para cumprir 70 mandados de prisão e 73 de busca e apreensão, expedidos pela Justiça Federal de Vitória, Espírito Santo. A ação mobilizou 290 policiais federais.
Até as 20h, 46 pessoas haviam sido presas – sendo seis em Goiás (entre eles, um engenheiro, empresários e um médico que já possui passagens pela polícia por tentativa de fraude em concurso público) e pelo menos sete em Minas.
Em Montes Claros, no Norte do Estado, foi preso Elzo Barbosa, 27, empresário e dono de uma choperia, segundo a assessoria de imprensa da PF na cidade. Assim como os seis presos de Goiás, ele seria um dos articuladores do esquema. Na residência dele, foram apreendidos equipamentos de recepção e transmissão (pontos eletrônicos), carteiras de identidade e cartões de crédito. No Triângulo Mineiro, foram presas outras quatro pessoas – duas em Uberaba, uma em Itapagipe e uma em Araguari. Em Itajubá, no Sul de Minas, foram presos um médico de 29 anos e um comerciante de 36. Eles contaram à polícia que cobravam R$ 70 mil por uma vaga.
Em Minas, ao todo, foram expedidos 18 mandados de busca, sete de prisão preventiva e 11 de prisão temporária em Belo Horizonte, Itajubá, Manhuaçu, Itapagipe, Uberlândia, Governador Valadares, Oliveira, Iturama, Manhumirim, Uberaba, Araguari e Montes Claros.
As investigações duraram um ano e seis meses. Nesse período, a PF acompanhou a atividade de seis quadrilhas baseadas em Goiás e uma em Minas. Ao todo, elas tentaram fraudar mais de 50 vestibulares em 30 instituições. Entre as instituições vítimas da fraude, estão a Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, a fluminense Estácio de Sá e a PUC Betim.
Esquema. Os grupos atuavam de duas formas: divulgando os gabaritos por aparelhos eletrônicos ou substituindo os verdadeiros candidatos na prova, com a falsificação de documentos (veja quadro).
O esquema tinha quatro níveis. No topo, estavam os líderes, seguidos pelos pilotos – alunos bem-preparados, de cursos de medicina de federais. Eles resolviam a prova rápido e passavam as respostas por meio eletrônico ou faziam a prova no lugar do candidato com documentos falsos.
Os operacionais treinavam os alunos para receberem as respostas durante as provas. No último nível, ficavam os corretores, que captavam os candidatos.
Na fraude eletrônica, o preço variava de R$ 25 a R$ 50 mil. Na fraude por meio de documentos falsos, o valor variava de R$ 45 mil a R$ 80 mil. Em cada vestibular, as quadrilhas planejavam lucrar de R$ 200 mil a R$ 400 mil.