Carregando data e hora...

O PASSA-CINCO AGONIZA LENTAMENTE

 “No dia em que iam matá-lo, Santiago Nassar, levantou-se às 5 e 30 da manhã para esperar o barco em que chegava o bispo. Tinha sonhado que atravessava uma mata de figueiras-bravas, onde caía uma chuva miúda e branda, e por instantes foi feliz no sono, mas ao acordar sentiu-se todo borrado de caca de pássaros. “Sonhava sempre com árvores”, disse-me a mãe, Plácida Linero, recordando vinte e sete anos depois os pormenores daquela segunda-feira ingrata”.

 

O texto é o início do livro “Crônica de uma morte anunciada” do Nobel de Literatura, Gabriel Garcia Marquez, ativista colombiano. Mas, poderia ser aplicado ao Parque Natural Municipal Tancredo Neves, unidade de conservação localizada na periferia urbana na divisa dos bairros de Fátima, São Pedro, Novo Horizonte e Cidade Nova. A morte do maior tesouro público está anunciada há muito tempo.

 

De vez em quando, alguns remédios são aplicados, mas os médicos/dirigentes públicos viram-lhe as costas e ele novamente tem uma recaída, com feridas expostas e sem cura. Recentemente esvaziaram a sua principal lagoa para fazer levantamentos após pressão da sociedade e de vereadores que, no rastro de Brumadinho, estavam com medo do rompimento de sua barragem que acumula mais de 01 (um) milhão de litros d’água. Seria uma tragédia descomunal.

 

O parque viveu seus tempos de glória, que estão até na cabeça das pessoas, quando Sette de Barros, transformou o local em área de lazer e turismo, entre outubro de 1984 e 1988. Depois, o parque foi reaberto quando Padre Ademir Ragazzi era prefeito, entre os meses de março e outubro de 1994. Tive a honra de novamente ser diretor em 2011, no governo de Joãozinho de Carvalho, quando cercamos a área e recuperamos a barragem, que tinha várias infiltrações.

 

Em 2008, a Câmara Municipal aprovou a doação de terreno para a implantação do Complexo Penitenciário, que foi anunciado como Presídio. Aí, definitivamente não era um remédio e sim um veneno aplicado no doente Passa-Cinco. O esgoto da unidade prisional passa dentro dos caminhos antes trilhados por pessoas. Vive escorrendo e contaminando a lagoa principal e prejudicando a fauna e a flora.

 

Em minha opinião, o único remédio hoje para o parque seria o seu fechamento completo. Não existe nenhuma chance de outra solução: a administração municipal não quer priorizá-lo, pois precisaria investir recursos altos para deixá-lo apto para pesquisas e educação ambiental, pois como área de lazer seria desperdício de dinheiro, uma vez que as pessoas têm receio de ir ao local em função da localização nas proximidades da penitenciária superlotada.

 

Na última visita que fiz ao Passa-Cinco (10 de junho de 2019) deparei-me com uma situação horrível: a porta da guarita que havia sido concluída em 07 de junho estava arrombada; 03 (três) touceiras de bambus queimadas; cômodos usados para cozinha e para guardar ferramentas no Viveiro de Mudas queimado e paredes caídas; um eucalipto caiu por sobre uma construção na antiga área de lazer destruindo-a e por fim encontrei uma caixa de esgoto do complexo penitenciário estourada e os dejetos escorrendo dentro do parque e indo parar na lagoa, contaminando-a (foto acima).

 

Observação: este artigo foi publicado no Líder Notícias edição 337, dia 14/6. Na mesma edição, na página 6 (inteira) uma reportagem realizada exatamente no dia 10/6, quando o companheiro Dimas José fez as fotos usando um celular.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mais 3