As duas mortes nos últimos meses de 2012 em repúblicas de Ouro Preto, na região Central de Minas, não alteraram em nada o planejamento de festas regadas a bebidas alcoólicas para o Carnaval deste ano. A pouco mais de um mês da folia, repúblicas usam um site para oferecer pacotes open bar (com bebida liberada), com preços que variam entre R$ 500 e R$ 1.500 por pessoa.
No cardápio há cerveja, tequila, cachaça, vodca, uísque, licores e até absinto. Garrafas de bebida são oferecidas ainda como prêmio em concursos de fantasia. “A festa aqui está garantida. É sinistra. Vai ter cerveja para tudo o que é lado. Você não vai perder seu dinheiro se vier para cá”, disse o representante de uma das 42 repúblicas federais que oferecem os pacotes. A frase do estudante, que não quis ser identificado, foi dita antes dele saber que estava falando com a reportagem.
Já para o presidente da Associação das Repúblicas Federais da Ufop (Refop), Luiz Philippe Albuquerque, 22, aluno do curso de direito, as festas nas repúblicas já são tradicionais e em nada diferem dos festejos no resto do país. “No Carnaval, todo o Brasil está em festa e nada que acontece aqui é diferente do que ocorre em outros lugares. As duas mortes do ano passado foram fatalidades”.
A Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e a prefeitura não informaram como será feita a fiscalização das repúblicas, mas disseram que o simples aluguel de espaço nas repúblicas não é proibido. Segundo a assessoria da Ufop, a universidade fará reuniões com os alunos para discutir a organização do Carnaval.
Para o professor de psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Luis Flávio Couto, é preciso que o poder público realize campanhas educativas. “Cada um tem o direito de se embriagar e é preciso que isso seja respeitado. O que pode ser feito são campanhas educativas”, ponderou.
Mortes. O estudante Pedro Vieira, 25, morreu em 30 de novembro. Um mês antes, Daniel Mello, 27, também faleceu. Os dois passaram a noite anterior bebendo em festas em repúblicas.
“Me hospedei em uma das repúblicas em 2011 e me lembro ter pagado algo em torno de R$ 500. Neste ano não encontrei mais nenhuma vaga por menos de R$ 900. Um valor muito alto. A festa, sim, é grande, mas a acomodação deixa a desejar pelo preço. Todo mundo fica muito apertado”, disse o estudante de direito Marcos Moura, 23, que está repensando sua ida até a cidade.
Manutenção. Segundo o representante dos estudantes, o dinheiro do aluguel não representa lucro, mas é usado em reformas nas repúblicas. “É com esse dinheiro que nós fazemos alguma coisa nas casas que são velhas. Não lucramos nada”, disse o presidente da Associação das Repúblicas Federais da Ufop (Refop), Luiz Philippe Albuquerque, 22. (JC)