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Marca ‘Igreja’ precisa ‘ir atrás de consumidor’, dizem publicitários

 

 

 

A Igreja Católica precisa de uma “forma moderna de evangelização” e uma estratégia de comunicação que integre as novas tecnologias para se aproximar dos fiéis, afirmam especialistas em marketing que compararam, a pedido da BBC Brasil, a Igreja Católica a uma marca global que perde fatias de mercado no mundo e também enfrenta problemas de imagem ligados a escândalos.
“A Igreja Católica transmite hoje a impressão de que está atrás de trincheiras, tentando se defender, e que tudo o que é importante no mundo acontece em outros lugares”, disse à BBC Brasil Marco de la Fuente, vice-presidente da agência de publicidade BDDP & Fils, que realizou a campanha política do presidente francês, François Hollande.

“A Igreja Católica precisa estar mais presente na sociedade e inventar uma forma moderna de evangelização. E também precisa encontrar uma maneira de existir mais na internet e nas redes sociais, utilizando a sua linguagem, sem perder sua integridade”, afirma Fuente.
Segundo ele, a instituição perdeu força no papel de agregador social e passou a sofrer a concorrência de outras religiões e de tudo o que acontece no mundo, inclusive das marcas, que também defendem, comercialmente, um estilo de vida e um sistema de valores, diz Fuente.
“Antes, a Igreja tinha o papel fundamental de reunir as pessoas. Em qualquer vilarejo, era o prédio mais imponente do lugar. A igreja era o lugar de socialização. Hoje ela exerce muito menos essa função”, afirma Fuente.
Para Damien Sentilhes, professor do mestrado de marketing do renomado Instituto de Estudos Políticos de Paris e ex-diretor de desenvolvimento de marcas do grupo L’Oréal, a Igreja Católica “se distanciou da preocupação dos fiéis”.
Sentilhes também afirma que a Igreja Católica precisa ir ao encontro dos fiéis para evitar que eles continuem diminuindo progressivamente em número no mundo.
“É o que as marcas fazem. Elas vão atrás dos consumidores onde eles estiverem”, diz Sentilhes.

Discurso religioso

Essa visão dos especialistas em marketing coincide com o pronunciamento do recém-eleito papa Francisco em reunião com os cardeais na última sexta-feira.
O novo papa pediu que os cardeais busquem novos métodos de evangelização para atrair mais fiéis à Igreja Católica e levar o discurso religioso a todas as partes do planeta.
“A Igreja Católica não tem estratégia de comunicação”, afirma Sentilhes, ressaltando que ela também deveria modernizar seu discurso.
“(Ela) tenta ser ouvida permanecendo arraigada às suas opiniões. O resultado é que as pessoas quase não têm mais vontade de ouvi-la”, diz o publicitário Fuente.
A Igreja Católica tenta ser ouvida permanecendo arraigada às suas opiniões. O resultado é que as pessoas quase não têm mais vontade de ouvi-la
Marco de la Fuente, vice-presidente da agência de publicidade BDDP & Fils
Ele ressalta que isso não significa que a Igreja deva mudar suas opiniões ou ideais, mas sim defender suas posições sabendo inseri-las na sociedade moderna.
Para Fuente, um discurso do papa Bento 16 na África condenando a utilização de preservativos “provocou uma ruptura entre a Igreja e a maneira como a sociedade evoluiu”.
Mas, para o publicitário, a Igreja Católica ainda é “uma marca forte”. “Basta ver as multidões que ela reúne quando organiza eventos importantes”, diz Fuente.
Os especialistas ressaltam que a associação entre a Igreja Católica e uma marca de produto não tem, claro, uma relação direta, já que a Igreja não é uma atividade mercantil com fins lucrativos.
“A comparação pode ser feita da mesma forma que um país ou uma personalidade política também poderiam ser considerados como marcas porque criam, da mesma forma que a Igreja, uma imagem na cabeça das pessoas”, afirma Fuente.