Perdi um dos melhores amigos da minha vida, sujeito corajoso, talentoso e de excepcional inteligência. Nossa história começa, lá atrás, quando aventuramos buscar espaço como profissional de rádio em Ponte Nova. O ano era 1974 e conseguimos ser aprovados entre mais de uma centena de candidatos. Naquela época, o cara tinha que encarar um concurso. E a maioria que está aí foi assim. Lembro-me bem: a abertura do seu programa tinha como fundo musical Listen To The music (Ouça a música!), do conjunto norte-americano The Doobie Brothers.
Além deste aspecto profissional, nós transitávamos em um grupo de pessoas que tinha pendores para a arte, cultura e política: Penha Gomes, Edésio Vieira Martins, Antônio Inácio/Boneca, maestro França, Tião Catarino, José Carlos Daniel (ainda adolescente), Ayrton Pyrtz, Marcos Paulo Cirilo, Afonso Mayrink, José Henrique (professor da UFV), Guilherme Daniel Neto, Laene Teixeira Mucci e Ruy Merheb. Em Belo Horizonte era o Clube da Esquina, aqui em Ponte Nova éramos Geração Esquina.
Eu cheguei a disputar a mesma menina com Délcio Teobaldo, mas a danada era esperta e nos enganou. Ela ligava para a Rádio Ponte Nova e marcava encontro no jardim de Palmeiras. Estudava na Escola Nossa Senhora Auxiliadora, via a gente no banco, feito trouxa, mas não dava as caras. Depois descobrimos quem era. Nenhum de nós “pegou” a garota, mas andei escrevendo cartas terrivelmente sexuais para ela entre anos de 1976 e 1979.
Partimos para o teatro e criamos os grupos teatrais TACO (Teatro de Amor e Construção) e RIMODELTE (Ricardo Motta e Délcio Teobaldo). Artista plástico, Délcio Teobaldo fez uma exposição em que aproveitava pedaços de madeira (uma das peças está com José Carlos Daniel) Criamos também o suplemento literário Ex-Atos, encarte do jornal Tribuna da Mata e depois o revolucionário Jornal/Revista Forma, com Fernando Grossi, João Brant, Mansur Barbosa, Marcos Braga, Roberto Caldeira, entre outros.
Nossa ligação era tão grande, incluindo Guilherme Daniel Neto e Mansur Barbosa, que criamos a Editora Espora quando morei no Rio de Janeiro e produzimos 02 (dois) livros, sendo o primeiro de Laene Teixeira Mucci que teve o título A Canção de Maria do Piauí e Ruy Merheb Vivo (entrevista). Merecemos um poema de Laene, que nos retratava em a Canção dos Moços Tristes. Délcio ficou no Rio de Janeiro e eu voltei.
Délcio era destemido. A família da sua esposa Virgínia não queria o relacionamento e o moço triste armou uma situação arrojada para a época: conseguiu que Marcos Pereira (Senai), que era Juiz de Paz, fizesse o casamento clandestinamente e ele (Délcio Teobaldo) “sequestrou” Virgínia, que tinha quase 18 anos e foi embora com ela para o Rio de Janeiro. Ousadia extrema para aqueles tempos de Ditadura Militar, da qual tínhamos nojo e continuamos tendo. Ele morreu com nojo do que aconteceu no Brasil, mas eu continuo com nojo e ódio daquela época!
Fiquei sabendo da morte de Délcio Teobaldo às 04h30 da madrugada de 08 de abril. Acordei por causa da insônia, de sempre, e como o celular estava ligado vi a notificação do Messenger da sobrinha dele, Elisângela Militão. Confesso que chorei e passei o dia inteiro “penando”. Exatamente em uma quinta-feira (08/04), dia de fechamento do Líder Notícias, edição 432, que lhe prestou uma homenagem na capa e em sua principal página, a 3.
Foto : João Brant e Ricardo Motta (em pé) com Délcio Teobaldo