A nova lei, que ainda depende de regulamentação, deve beneficiar em torno de 2,7 mil pessoas ao ano em Minas, segundo estimativa baseada em dados do Instituto Nacional do Câncer. São histórias como a de Tatiane Avelino, de 29 anos, técnica de enfermagem de Muriaé, na Zona da Mata mineira. Casada há dois anos, após 10 anos de namoro, sem filhos, ela descobriu em dezembro ter câncer de mama. “Começamos a namorar muito novos e queríamos construir uma casa para receber nossos filhos”, explica.
Tatiane já está na segunda sessão de quimioterapia e acredita que vai ficar curada. Como trabalha no Hospital do Câncer de Muriaé, ela detectou o problema no início. “Na verdade, nem pensei em congelar o embrião, porque está fora da minha realidade. O tratamento é caro. Tenho fé que Deus vai me curar e, se for bom para mim, conceder a graça de continuar a ter filhos”, confia ela.
Segundo o autor da proposta, o deputado estadual Wilson Batista (PSD), já está em negociação o convênio com clínicas particulares em Belo Horizonte e cidades do interior, cadastradas para receber pacientes. O Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não oferece essa modalidade de atendimento. “Nos hospitais especializados, os casos de pacientes jovens com câncer que se tornam inférteis são quase diários”, lamenta o parlamentar, médico oncologista no Hospital do Câncer de Muriaé.
Entre os casos relatados pelo deputado está o drama de Adelço Balbino Junior, de 30 anos, de Aimorés, que sobreviveu a um tumor maligno no cérebro depois de um ano de quimioterapia, mas desde então tem dificuldade com relacionamentos amorosos. “Na época, não pensava em mais nada, só queria ficar curado de uma dor de cabeça insuportável. Só depois me dei conta de que nunca mais vou poder ter filhos. Minha vida mudou muito. Eu me converti e passei a viver mais para meus pais e a igreja. Passei a falar na rádio para que todos digam ao médico que querem ter filhos e congelem seus gametas”, diz ele, que se tornou locutor de rádio evangélica.
Clínicas particulares especializadas em reprodução humana assistida oferecem congelamento de óvulos e espermatozoides. Em média, a preservação do embrião congelado custa R$ 700 ao ano e sua implantação no útero, de R$ 3 mil a R$ 5 mil. “O método de vitrificação garante a probabilidade de 92% de que o óvulo volte perfeito ao útero. Ao se submeter ao tratamento, o paciente mantém acesa uma chama de esperança, pois poderá ficar curado e ainda ter filhos”, defende Bruno Scheffer, diretor do Instituto Brasileiro de Reprodução Humana Assistida.