O Hospital Arnaldo Gavazza Filho (HAGF), com sede no município de Ponte Nova, anunciou a implantação da Rede Municipal e Intermunicipal de Atendimento ao Paciente com Acidente Vascular Cerebral (AVC). O projeto, apresentado à Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Ponte Nova, ao município sede e parte da equipe hospitalar, tem à frente a coordenadora do setor de Neurologia Clínica da instituição, Lívia Filgueiras Martins Nogueira. O Centro de Referência no Tratamento do AVC Agudo do HAGF atende pacientes SUS e conveniados das microrregiões de Viçosa e Ponte Nova.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o AVC é a segunda causa de óbitos no Brasil e no mundo e a principal causa mundial de incapacidade. É subdividido nos tipos isquêmico e hemorrágico, sendo que o primeiro corresponde a 85% dos casos. Acredita-se que sua incidência seja maior após os 65 anos de idade e que a probabilidade de acontecer dobre a cada década após os 55 anos. São fatores de risco: histórico de doença vascular prévia, sexo masculino, idade avançada (a prevalência é maior após os 80 anos), doenças do coração, sedentarismo, diabetes, colesterol alto, uso de álcool e drogas, hipertensão arterial, tabagismo, entre outros.
Sobre os sintomas, Dra. Lívia Filgueiras elenca os principais: “Dor de cabeça intensa, fraqueza de um lado do corpo, assimetria facial, fala confusa, perda de equilíbrio, visão turva ou perda visual e perda de consciência. Na presença de qualquer um desses sinais, a orientação é levar o paciente imediatamente ao hospital. Como costumamos dizer, tempo é cérebro. O ideal, para que as sequelas sejam minimizadas, é que esse paciente receba a medicação até, no máximo, 4h30 da ocorrência do episódio, com a devida implementação do protocolo adequado”, esclarece.
Por isso, reforça a importância do fortalecimento da Rede Municipal e Intermunicipal de Atendimento ao Paciente com AVC: “Para que ela funcione, é essencial que os protocolos de atenção em AVC sejam definidos e pactuados pelos diferentes componentes na linha de cuidados, de forma a uniformizar condutas e permitir o acesso de todos os pacientes às terapias estabelecidas em diretrizes”, ressalta.
De acordo com a coordenadora, profissionais da assistência, como médicos, enfermeiros e plantonistas, foram treinados para implementar o protocolo de AVC no HAGF. “A novidade está, no entanto, no envolvimento de todos os profissionais do hospital, a começar pela recepção e pelo serviço de portaria, que já sabem reconhecer um paciente suspeito e encaminhá-lo para atendimento, sem perda de tempo”, explica.
A superintendente executiva do HAGF, Lucimar Fonseca, destaca o envolvimento das equipes assistencial e administrativa. “Todos abraçamos a causa com muito empenho, com uma visão aguçada da importância de todo o processo. Internamente, estamos bem fortalecidos. Agora temos que nos empenhar para agregar os parceiros externos. Quanto mais pessoas contribuírem para que esse paciente chegue ao serviço de forma mais breve, melhor. Para um paciente de AVC, tempo é recuperação e qualidade de vida”, diz.
Para a superintendente da SRS Ponte Nova, Josy Fialho, é de extrema importância a ampliação da rede. “Precisamos formar e consolidar essa rede de atendimento intermunicipal, incluindo efetivamente os municípios das microrregiões de Ponte Nova e Viçosa. Com a chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) nos próximos meses, teremos mais um apoio ao que almejamos, que é trazer celeridade ao processo de atendimento desse paciente acometido com AVC, evitando ao máximo as sequelas e o tempo de internação hospitalar”, acredita.
Histórico
Conforme dados trazidos pela Dra. Lívia Filgueiras, em 1995 ficou demonstrado que o trombolítico (medicamento que tem a função de desfazer um trombo ou coágulo sanguíneo), quando aplicado endovenosamente em até 4h30 do início dos sintomas, seria capaz de desobstruir o vaso cerebral ocluído. “A trombólise está aprovada no Brasil desde 2001 e, em 2008, o Ministério da Saúde percebeu a necessidade e a possibilidade de estruturar um projeto nacional de atendimento ao AVC. Mas ainda hoje apenas alguns poucos hospitais têm treinamento, estrutura e organização suficientes para implementar o tratamento, e é com muita alegria que podemos dizer que o nosso hospital é um deles”, completou.
Protocolo
No HAGF, o protocolo de atendimento de AVC contempla uma assistência global e multidisciplinar. A estrutura hospitalar contém sete leitos, sala vermelha e salão SUS, sendo todos os espaços devidamente monitorizados. O fluxograma envolve as seguintes fases e etapas: pré-trombólise, que inclui identificação do AVC, aplicação de check list, encaminhamento imediato para tomografia de crânio e preparo do paciente; trombolítica, com preparo do medicamento e monitorização rigorosa; e pós-trombólise, com encaminhamento ao CTI ou setor de urgência para monitorização e recebimento de cuidados por 24 a 48 horas e investigação etiológica do AVC.
Os próximos passos do projeto envolvem o treinamento de agentes externos, com destaque para as unidades de Atenção Primária à Saúde (APS) do território, para que reconheçam o paciente de imediato e o encaminhem à unidade hospitalar.
Por Tarsis Murad