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Há 70 anos, nazistas executavam jovens líderes da ‘Rosa Branca’

 

 

 

Há exatos 70 anos neste dia 22 de fevereiro, três estudantes alemães foram executados em Munique, condenados por liderar um movimento de resistência contra Adolf Hitler.
Desde então, os membros do grupo Rosa Branca se transformaram em heróis nacionais da Alemanha. Liselotte Furst-Ramdohr é uma das remanescentes deste grupo e falou com a BBC.

Eles começaram sua campanha de resistência passiva em 1943, quando a Segunda Guerra estava no auge, em Munique, o centro do poder nazista.
Na época, Liselotte tinha 29 anos e já era viúva, o marido dela tinha morrido no fronte russo. Um amigo, Alexander Schmorell, a apresentou ao grupo Rosa Branca.
“Ainda posso lembrar Alex me contando sobre o grupo. Ele nunca usou a palavra ‘resistência’, ele apenas disse que a guerra era terrível, com batalhas e tantas pessoas morrendo e que Hitler era um megalomaníaco, então eles tinham que fazer alguma coisa”, conta Liselotte, hoje com 99 anos.
Ela lembra que o grupo não conseguia entender como o povo alemão foi levado tão facilmente a apoiar o Partido Nazista e sua ideologia.

Panfletos e riscos

O sexto panfleto produzido pelo grupo Rosa Branca

O panfleto foi contrabandeado para fora da Alemanha e, depois, cópias dele foram jogadas sobre o país pelas aeronaves aliadas.
“O dia do ajuste as contas chegou, a juventude da Alemanha ajustando as contas com a tirania mais repulsiva que nossa nação já viu…
Para nós, há apenas um slogan: Lute contra o Partido! Saia da hierarquia do Partido que quer nos manter em silêncio!
O nome alemão será desonrado para sempre se a juventude alemã não se rebelar, para vingar e expiar de uma vez, para destruir seus algozes e construir uma nova Europa espiritual. Estudantes! A nação alemã olha para nós!”
Alexander Schmorell e seus amigos, Christoph Probst e Hans Scholl, começaram a escrever panfletos que tentavam convencer os alemães a se juntarem à resistência ao regime nazista.
Com a ajuda de um pequeno grupo de colaboradores, eles distribuíam estes panfletos por endereços que sorteavam a partir da lista telefônica.
Alguns eram entregues pessoalmente em endereços de Munique e outros eram levados por mensageiros de confiança para outras cidades.
Liselotte nunca entregou estes panfletos, mas escondeu o material em um armário de vassouras em seu apartamento.
Ela também ajudou Schmorell a fazer estêncis para grafites de frases como “Abaixo Hitler”. Nas noites de 8 e 15 de fevereiro o grupo Rosa Branca estampou a frase nos muros de Munique.
Os ativistas arriscavam a vida com estas atividades e Liselotte lembra que todos eram jovens e ingênuos.

Filme e prisão

Uma das integrantes do grupo que ficou famosa foi a irmã mais jovem de Hans Scholl, Sophie, retratada em um filme indicado ao Oscar, Uma Mulher Contra Hitler.
Liselotte lembra que Sophie sentia tanto medo que costumava dormir na cama do irmão.
“Hans também tinha muito medo, mas eles queriam continuar pela Alemanha. Eles amavam o país”, ela conta.
No dia 18 de fevereiro os irmãos planejaram sua ação mais ousada: distribuir os panfletos contra Hitler na Universidade de Munique.
Os dois deixaram pilhas de panfletos em volta da escadaria central. Sophie ainda tinha alguns nos braços e os atirou de cima de um balcão para que eles caíssem em cima dos estudantes.
Ela foi vista por um funcionário da universidade, que chamou a Gestapo, a temida polícia secreta do Estado. Hans Scholl ainda tinha o rascunho do próximo panfleto em seu bolso, que ele tentou engolir, mas foi pego pela Gestapo.
Os irmãos foram presos, julgados, considerados culpados e executados na guilhotina, junto com o amigo e colaborador Christoph Probst, no dia 22 de fevereiro de 1943.
As últimas palavras de Hans Scholl antes da execução foram: “Longa vida à liberdade!”.

Pânico

O resto do grupo entrou em pânico e Alexander Schmorell foi para o apartamento de Liselotte, onde ela o ajudou a comprar roupas novas e um passaporte falso. Ele tentou fugir para a Suíça mas, devido à neve, teve que voltar.
Ao voltar para Munique, ele foi capturado depois da denúncia de uma ex-namorada que o viu entrar em um abrigo tentando escapar de um bombardeio. Schmorell foi executado.
Liselotte Furst-Ramdohr foi presa no dia 2 de março.

“Dois homens da Gestapo vieram ao apartamento e reviraram tudo de cabeça para baixo. Eles olharam minhas cartas e um deles disse: ‘acho que você tem que vir conosco’. Eles me levaram para a prisão da Gestapo no Wittelsbach Palais, de bonde – eles ficaram atrás do meu banco para que eu não fugisse”, afirmou.
Ela passou um mês sob custódia da Gestapo, sendo interrogada sobre o grupo Rosa Branca. Depois deste tempo, ela foi libertada sem acusações. A Gestapo esperava que ela delatasse ou os levasse para o resto do grupo e ela foi seguida pela polícia secreta por algum tempo depois de sua libertação.
Liselotte fugiu de Munique para Aschersleben, perto de Leipzig, onde se casou novamente e abriu um teatro de marionetes.

Panfleto final

O último panfleto do grupo Rosa Branca foi contrabandeado para fora da Alemanha e interceptado pelos Aliados. No outono de 1943 milhões de cópias deste panfleto foram jogadas sobre a Alemanha por aeronaves aliadas.
Desde o fim da guerra, os membros do grupo se transformaram em figuras de destaque no país. A sociedade alemã procurava modelos positivos saídos do período nazista, algo que Liselotte não aprova.
“Na época, eles teriam executado todos nós”, afirma Liselotte se referindo à maioria dos alemães.
Atualmente ela vive sozinha em uma pequena cidade perto de Munique. Alexander Schmorell foi transformado em santo pela Igreja Ortodoxa Russa em 2012.
“Ele teria rido muito se soubesse. Ele não era santo, era apenas uma pessoa normal”, disse Liselotte.