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Filme mostra a rotina arriscada de médicos que fazem abortos tardios nos EUA

 

 

 

Apenas quatro médicos fazem abortos tardios nos Estados Unidos. Eles são o tema de um novo documentário que narra seu cotidiano de trabalho.
Durante o festival de cinema de Sundance, na semana passada, esse foi o único filme cuja primeira exibição contou com segurança armada e detectores de metais.

O aparato não visava proteger celebridades e as jóias usadas por elas em eventos do gênero.
A proteção era para LeRoy Carhart, Warren Hern, Susan Robinson e Shelley Sella. Eles são os quatro médicos cujas vidas são retratadas no documentário After Tiller (Depois de Tiller, em tradução literal), de Lana Wilson e Martha Shane.

Assassinato

George Tiller, um dos mais proeminentes médicos especializados em abortos nos Estados Unidos, foi assassinado em 2009 em uma igreja no Kansas, enquanto rezava com a família.
A cineasta Wilson se viu confundida pela ironia – de um homem ser morto dentro de uma igreja por um fanático religioso.
“Eu me perguntei quem havia sobrado para fazer abortos aos nove meses, que era sua especialidade”, disse.
Antes de sua morte, Tiller treinou os quatro médicos.
Eles estão agora espalhados pelos Estados Unidos. Carhart, de 71 anos, em Maryland, Hern, de 74, no Colorado, e Robinson e Sella, ambos de 60 anos, trabalham na mesma clínica em Albuquerque, Novo México.
Sella e Robinson só se convenceram a participar do documentário após um ano. Já Carhart e Hern concordaram rapidamente.
“Eu sempre fui da opinião de que não importa o que as pessoas ouçam, se nos querem mortos, nos matarão de qualquer jeito”, disse Carhart.
Para Hern, o filme é uma chance de educar o público sobre seu trabalho.
O filme chega às telas no 40º aniversário do julgamento do caso que ficou conhecido nos EUA como Roe Vs. Wade –ocasião em que a Suprema Corte americana estabeleceu o direito de abortar no país.

Prática reprovada

Uma pesquisa recente das redes NBC e WSJ revelou que a maioria dos americanos são favoráveis a alguma forma de aborto legalizado. Contudo, abortos realizados no final da gestação – que segundo especialistas representam apenas 1% dos casos – ainda são reprovados por uma maioria esmagadora das pessoas.
Uma pesquisa do Instituto Gallup realizada em 2011 mostrou que a maioria dos pesquisados – tantos dos favoráveis quanto dos contrários ao aborto – acredita que tais procedimentos deveriam ser considerado ilegais.
Apesar do aborto ser um dos temas mais polêmicos dos EUA, o documentário tentou apresentar o trabalho desses médicos, sem inseri-lo em um contexto político.
Shane, co-diretora da obra, disse que o objetivo de sua equipe era tratar o tema de uma forma honesta e mostrar que o assunto é muito mais complexo do que a forma como é retratado nos discursos tanto de defensores como detratores.
O filme retrata as histórias de vários casais que procuram a solução do aborto para casos de anomalia fetal. Eles realizam exames nos últimos períodos da gravidez e descobrem que seus filhos não terão chances de sobreviver muitos dias fora do útero.
Os médicos dizem que essa é a maior causa de abortos tardios.
Outros casos abordados no documentário são de uma adolescente estuprada, uma mulher que diz que não poderia sustentar outro filho e de uma garota de 14 anos que ameaça cometer suicídio.
“O meu respeito para os médicos aumentou dez vezes, mas isso não é devido ao fato de que eles estão arriscando suas vidas”, diz Shane.
“Eles estão ajudando as mulheres com uma das coisas mais difíceis que você jamais vai passar”, afirma.
“O trabalho que estão fazendo é muito mais complexo emocionalmente do que qualquer um pode imaginar”.
Robinson afirmou que seu trabalho é uma luta. “Nós já nos recusamos a atender muitas mulheres que queriam abortos, mas também realizamos muitos procedimentos com o coração pesado”, disse.
“Mas, de modo geral, se uma mulher vem depois de viajar por quilômetros e enfrentar os manifestantes, então eu sei que ela está comprometida com seus desejos”.

Ameaças e agressões

O documentário revela ainda as ameaças e agressões praticadas por ativistas contrários ao aborto contra esses médicos. Os criminosos teriam queimado um estábulo e matando 21 cavalos de Carhart, e ameaçado a mãe de Hern, de 90 anos de idade. Além disso, os quatro médicos já receberam ameaças de morte.
E diariamente, eles se deparam com uma barreira de manifestantes esperando por eles no trabalho. E eles permanecem irredutíveis.
”Se não formos nós, quem irá fazê-lo?”, pergunta Carhart. “Eu faria tudo novamente, se tivesse a escolha, apesar de tudo que já me aconteceu.”
”No final das contas, é uma questão de saúde. Estamos prestando um serviço às mulheres.”
Quando estes médicos se forem, não se sabe quem irá fornecer estes cuidados às mulheres e se este serviço ainda estará disponível.
A clínica de Albuquerque está treinando um novo médico, mas 8 Estados americanos já promoveram emendas em suas legislações a fim de proibir o aborto após 20 semanas de gravidez.
After Tiller foi aplaudido de pé durante sua exibição, mas sites de grupos antiaborto e blogs condenaram-no por glorificar o aberto e médicos que realizam-nos.
O documentário está sendo vendido pelos seus realizadores, com vistas a um lançamento no cinema.

Enquanto isso, os médicos estão voltando ao trabalho.