”Vá, Francisco, arrume a minha casa”, foi com essas palavras, escritas em italiano, que um grupo de fiéis esperava o papa Francisco no dia de seu entronamento, nesta quarta-feira, em Roma, na praça São Pedro.
O primeiro papa latino-americano, que assume após a primeira renúncia de um pontífice em quase 600 anos, tomou posse oficialmente como papa com muitos católicos ainda chocados com os recentes escândalos financeiros e sexuais que abalaram a Igreja.
O argentino Francisco, de 76 anos, chegou à praça em carro aberto, dispensado o papamóvel blindado e com vidros protetores.]A multidão deu vivas ao papa, que, sorridente, desceu do carro e cumprimentou alguns fiéis, chegando a beijar um bebê.
Solenidade
Desde que foi escolhido papa, Francisco tem chamado atenção pela simplicidade em suas vestimentas.
Mas durante os ritos iniciais do entronamento, Francisco foi devidamente paramentado para a cerimônia inaugural, com os trajes típicos de um papa.
Em tom solene, ao sair da Basílica de São Pedro, já com os trajes oficiais da cerimônia, Francisco caminhou na área externa em procissão com os cardeais entoando uma ladainha em latim.
Já fora da Basílica, recebeu o anel do pescador, simbolizando que assumiu o papado.
“Veio de longe e com sua simplicidade já conquistou”, dizia o cartaz do italiano Giuseppe Antonio Perazzo. ”Com todo o respeito ao papa João Paulo 2º e a Bento 16, esse papa é especial, por sua atenção aos pobres”, disse o italiano.
‘Horizonte de esperança’
Rezada em latim, a missa teve trechos entoados em grego, e a homilia, em italiano.
Em seu sermão, pediu que dirigentes mundiais ”protejam a criação, projetam cada homem e cada mulher, olhem para eles com ternura e amor”.
De acordo com Francisco, esse é o caminho de se firmar ”um horizonte de esperança, de deixar um feixe de luz em meio às nuvens carregadas”.
A praça estava tomada por bandeiras de todos os países, sobretudo da Argentina. Em um canto, Regina Gomede, de Toledo, Paraná, primeira diocese de dom Odilo Scherer, um dos papáveis antes do conclave, disse que torceu muito pelo brasileiro.
”Mas eu já gostei do papa argentino. Não tem rivalidade. Claro que torci muito por dom Odilo. Não foi dessa vez, quem sabe da próxima”, afirmou.
Encontro com Dilma
Ao fim da cerimônia, o papa recebeu os cumprimentos de representantes ou líderes de mais de cem países que foram a Roma, entre eles os da presidente Dilma Rousseff.
Dilma terá um encontro reservado com o pontífice na quarta-feira, às 11h00 locais (07h00 em Brasília).
Na segunda-feira, a presidente disse à imprensa que pediria apoio do papa às políticas para erradicação da pobreza no mundo.
Dilma também fez o que pareceu ter sido uma crítica velada à condenação, por parte da Igreja, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
A presidente pediu que o clero compreenda ”as opções diferenciadas das pessoas”.