Depois de longa e massacrante estiagem, responsável pela tenebrosa morte de centenas de mudas de árvores nativas e pelo “sumiço” de nascentes e extinção de “olhos d’água”, fiquei sabendo que Dom Ricardo, o Visconde da Prata, estava me procurando. Afinal, já são quase dois anos sem qualquer aceno de comunicação. Dom Ricardo, o Visconde da Prata, é realmente um cara de sorte com as mulheres, ao mesmo tempo sem sorte. Ele se apaixona facilmente por um rabo de saia, mas faz tudo errado. É volúvel, irresponsável, dissimulado, sempre trai e cheio de lero-lero.
As mulheres, à primeira vista, se encantam por Dom Ricardo, o Visconde da Prata, mas com o tempo, descobrem sua verdade índole e acabam dando-lhe um chute na bunda. Mas, de qualquer maneira, sempre é bom ouvir suas intrigantes estórias. Ou seriam histórias, com pitadas de ficção?
Desta vez, nosso encontro não foi no bas-fond. Por aqui a gente chama de área da Rodoviária Velha, no Centro Histórico de Ponte Nova, esquina com Vila Alvarenga e beira linha, antigo setor que abrigava os puteiros, com suas magníficas e sacanas putas. Hoje, quase sempre, o caminho para viciados em drogas e dependentes de álcool.
“Dom Ricardo, o Visconde da Prata” estava com um tablet nas pernas e ativamente movimentando suas teclas.
– Olá! Como vai?
– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro… E você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranquilo… Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!
– Me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos… Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é… Quanto tempo!
– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas…
– Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
– Por favor, telefone! Eu preciso beber alguma coisa, rapidamente…
Legal! Dom Ricardo, o Visconde da Prata como sempre um cara antenado. Para um reencontro, nada melhor que “Sinal Fechado, de Paulinho da Viola. Assim é que se faz bons amigos, com boa música e velhas recordações.
– E aí, Dom Ricardo? Tudo bem nos últimos dois anos. Por onde andava?
– Aqui por perto. Estou morando no Sítio da Lua, perto do Sítio da Prata, no Barro Branco, um distrito de Barra Longa. Já te falei sobre isso da última vez. Conheci o local por que você me indicou. Não foi no Sítio da Prata seu ponto de apoio para escrever o livro “Sette de Barros, O Início de Uma Revolução ?”.
– Isso mesmo, Sítio da Prata. Isto já tem 22 anos!
De repente, Dom Ricardo, o Visconde da Prata, interrompeu a conversa e voltou para o tablet, acessando o Facebook. Pude perceber que ele “curtia” a foto de uma garota bonita, com aplique no cabelo e com um sorriso de safada. Uma garota de cara de vinte anos ou pouco mais. Uma amiga de Facebook pode ser de qualquer idade. Afinal, Dom Ricardo ainda tinha muita energia.
– Cara, esta garota… Liga toda hora, é incansável! Estou tentando atraí-la para minha casa. Só que vou ter que pagar um mototáxi para levá-la lá em casa e depois novamente acioná-lo para buscá-la. Muita mão-de-obra, mas tenho certeza de que será um “bom negócio”.
– “Bom negócio”? Mas não é um encontro entre homem e mulher?
– Deixa disso, Ricardo Motta. Você acha que uma garotinha dessas está à procura de um novo amor com um cara da minha idade? Na verdade, ela está precisando de dinheiro e acha que pode se dar bem comigo. Deve estar pensando que tenho grana e pronto.
– Cara, e ela já deu algum sinal de que vai topar?
– Já! Mas, é muito cheia de conversa. Disse que é para eu não contar para ninguém. Busquei informações a respeito dela e descobri que ela é decidida sexualmente. Foi amante de um cara casado durante 02 (dois anos). E o romance clandestino começou quando ela tinha 16 anos.
– Ela tem um nome?
– No Facebook está postado como Íris Murta. Mas acho que ela tem outro nome. O real, o de batismo e registro cartorial não estou interessado.
– Engraçado, esta garota deve gostar de meio ambiente. O nome dela é composto de duas espécies florísticas, de pequeno porte. A Íris é um arbusto que gera uma flor azul, que tem duração efêmera. A flor cai com apenas dois dias. Já a Murta, conhecida como Dama da Noite, é uma arbustiva com no máximo três metros de altura, quando adulta. Dá um fruto vermelho precedido de floração branca, que solta um perfume apreciado por uns e alérgico para outros.
– Como sempre, uma “aulinha” de natureza. Você gosta disso.
– E a Íris, você acha que vai conquistá-la? Quer dizer, arrastá-la para sua cama? Vai perder? Ou vai correr? Acho que será muito difícil, uma garota que você conheceu via Facebook não vai topar uma aventura. Mas qual foi sua estratégia para despertar sua atenção?
– Cara, foi muito engraçado. Rolava o mouse e ficava curtindo tudo que ela postava. De forma sistemática. Ela gosta de frases de impacto, tipo: “O cara era cafajeste e tal…com todas aí. Quando chegou a minha hora de usar, abusar e jogar fora, ele quer namorar”. Ou: “Sei que avassalei alguns corações, simplesmente por ser e. Passei rápido demais por algumas vidas, e em algum caso, não fui embora por querer”.
– Caraca, não é um tipo bestinha. É esperta pra cacete!
Dom Ricardo recebeu uma mensagem de WhatsApp e ficou entusiasmado. A Íris confirmando que iria para sua casa por volta das 14 horas de sexta-feira. Dei o endereço para ela e disse para ela pegar um mototáxi. Despedi-me de Dom Ricardo, O Visconde da Prata, e disse que me encontraria com ele no sábado.
No mesmo lugar e no mesmo banco do jardim de Palmeiras, lá estava Dom Ricardo, O Visconde da Prata, com o tablete acessando o Facebook na conta de Íris Murta.
– Nossa, Ricardo Motta, a garota é sensacional. Quando a vi quase caí duro. Pensei: será que aguento tudo isso? Foi difícil. Fiquei ansioso. Mas no fim deu certo demais. A garota foi um show. Linda e cheia de vigor físico. Lógico, não é mesmo?
– E depois disso? Você continuar o romance proibido para menores de 18 anos?