Quando explodiu o Golpe Militar eu morava em São Pedro dos Ferros, era criança e numa cidade tão pequena nada chegava, ainda mais com a absurda censura que os militares impuseram à mídia. Fernando Gabeira, guerrilheiro e jornalista e trabalhava no Jornal do Brasil. Conseguiu furar a censura, mandando recados para as organizações clandestinas no meio dos classificados, em mensagens cifradas.
Só tomei conhecimento, de forma real, da situação, por volta de 1973, quando mudei para Ponte Nova e fui trabalhar em um restaurante situado exatamente onde hoje é a empresa Ormel. O bar se chamava Galo e eu era garçom, servindo pratos e refeições. Mais adiante, entrei para o rádio e me tornei locutor-apresentador da Rádio Sociedade Ponte Nova, após passar em um concurso. Ali, no meio, passei a ter contatos com pessoas que eram contra a Ditadura e lutavam contra a violência preconizada pelos militares.
Na minha experiência durante a Ditadura Militar, fiquei sabendo da morte de Adriano Fonseca Filho (Adrianinho Fonseca) no Araguaia (Goiás), onde foi para debater e levar informações aos produtores rurais. Na conta da Comissão da Verdade foram contabilizadas 434 mortes, mas sem contar que os desaparecidos e sumidos chegam a mais de mil pessoas, incluindo índios e camponeses.
Em 1978, como Diretor de Jornalismo e Artístico, da Rádio Ponte Nova, enfrentei a censura. Todas as matérias jornalísticas eram redigidas e antes de ir para o ar passava pelo crivo do delegado-chefe que atuava em Ponte Nova: Dr. Militino, que por várias vezes censurou textos e os rasgavam na minha frente. Encastelei no O Município, jornal de propriedade de João Brant e fazíamos resistência com textos contra o regime militar. Criamos o Jornal/Revista Forma, que trazia poesias sarcásticas e textos-bomba.
Em dezembro de 1973, quando procurava jabutis na mata para alimentação de um grupo de oito guerrilheiros, Adriano Fonseca Filho, foi abatido numa emboscada militar, morrendo na hora. Decapitado por ordem do comandante do pelotão, sua cabeça foi transportada para Xambioá, como prova da morte do guerrilheiro no meio da selva. Seu corpo nunca foi encontrado. O relatório oficial da Marinha informa a data de sua morte como 03 de dezembro de 1973. É dado como desaparecido político.
Adriano Fonseca Filho nasceu em Ponte Nova no dia 18 de dezembro de 1945 e entrou para a guerrilha contra o regime militar quando estuda Filosofia na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Ele foi um militante do PC do B (Partido Comunista do Brasil) e integrante da Guerrilheira do Araguaia. Em Ponte Nova Adrianinho Fonseca é nome da avenida que liga o Bairro Santo Antônio até a Ponte da Rasa, em projeto do vereador Leo Moreira.
José Alexandre Fonseca (Lelé Fonseca) descreveu em seu livro “Jabuti não Sobe em Gameleira”, dedicado a Adrianinho Fonseca o seguinte: “sua principal função era expor a teoria marxista paro os companheiros de lutas, jovens estudantes, ampliarem quadros e, eventualmente, fazer algum levantamento estratégico. Às vezes ia bem cedo, quatro ou 5 da manhã, até em porta de alguma fábrica, nos subúrbios do Rio, verificar condições de segurança para uma panfletagem no dia seguinte. Panfletos que ele mesmo iria redigir e muitas vezes rodar nas gráficas clandestinas, à disposição do partido”.
Incrível, a imagem de Adrianinho Fonseca voltou a povoar o imaginário popular em Ponte Nova, através de um movimento de pessoas jovens, que resgatava a dignidade de quem fez e elevou Ponte Nova. Um dos líderes deste movimento era Felipe Polesca, que discutiu publicamente a necessidade de se construir a última alça do Anel Rodoviário (Dioguinho até Anna Florência), no ano de 2012.
Em 2014, em cerimônia realizada no Centro Histórico no dia 1º de maio, com a presença do Prefeito Guto Malta e os deputados federais Padre João e Nilmário Miranda (secretário Nacional de Direitos Humanos) propus mudar o nome da Praça Getúlio Vargas para Adrianinho Fonseca. Naquela data, o artista plástico, Ayrton Pyrtz, entregou para a municipalidade, um quadro pintado por ele com a imagem de Adrianinho Fonseca, que ficou em algum lugar no prédio da Prefeitura. Não sei onde ele está.
Os tentáculos do medonho polvo da Ditadura atingiram outras pessoas de Ponte Nova. Três eu sei e dois eu conheci: José Teobaldo, pai de Délcio Teobaldo, que criou em Ponte Nova, com ajuda de Sinval Bambirra, o Sindicato da Construção Civil. Ambos foram presos. Ambos são de Ponte Nova, Sinval Bambirra foi exilado, quando era deputado estadual e presidente do Sindicato dos Tecelões. Tem ainda, Waldemar Jorge, líder ferroviário que teve seu mandato de vereador cassado.
Sette de Barros (José), médico sanitarista, prefeito de Ponte Nova de 1983 a 1988 (nasceu em Santa Cruz do Escalvado, na época distrito de Ponte Nova), foi também cassado pela Ditadura Militar, quando era deputado federal. Clinicando no Rio de Janeiro, sua casa era um aparelho contra o regime instalado. Passaram por lá, o cineasta Neville d’Almeida, Adrianinho Fonseca, enquanto o filho José Sette de Barros Filho, exercia a luta com a produção de filmes marginais.
POR ESTAS E OUTRAS RAZÕES, O MEU REPÚDIO A ESTE PERÍODO
DITADURA E CENSURA NUNCA MAIS!