Pensei em não tocar mais nesta coluna sobre a pandemia do coronavírus. Fui até elogiado pelo articulista Mauro Serra que, como eu, vive nos anos acima dos 60. Ele é idoso, mas não liga para isso: anda de bicicleta, vive a pé (como eu). Gosta de apreciar a Beira Rio, mas nunca vi uma foto de capivara que ele tirou. Aprecia árvores, gesticula quando fala, anda de máscara, mas não se mascara para falar o que pensa, seja com quem for!
O mandatário-mor do Brasil quer isolamento vertical para confinar os velhos, isolá-los. Ele reabriria o país ao contágio total. Analisando friamente: quem coloca a saúde do povo e da economia brasileira em situação ruim é ele mesmo e seu séquito de ministros terraplanistas. O presidente isolou a Venezuela dizendo que lá é uma ditatura, mas flerta (e sonha) todos os dias com um regime de exceção: aí ele viraria o Bolsoduro dos Trópicos.
Mas, vamos ao que interessa: o médico gerontólogo e ex-diretor da OMS Alexandre Kalache, 74, afirma que o preconceito relacionado à idade tem aumentado durante a pandemia de COVID-19 e que a voz dos mais velhos, principal grupo de risco para a doença, é silenciada. “Deixa morrer! Já viveu muito! E daí?”. Parece que ninguém se importa mais a morte de alguém que já viveu. É o que eu chamo de gerontocídio“, afirma o ex-diretor da área de envelhecimento da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Presidente do Centro Internacional da Longevidade Brasil, Alexandre Kalache, diz que o fato de 30% das mortes por COVID-19 ocorrerem antes dos 60 anos mostra que, além da idade cronológica, a desigualdade social é um dos principais determinantes da pandemia. “As pessoas envelhecem prematuramente e mal. Há pessoas com 45, 50, 55 anos que já estão velhas. As desigualdades sociais fizeram com que elas tivessem precocemente as famosas comorbidades.”, afirma o médico, acrescentando que a violência doméstica contra idosos durante o isolamento social tem aumentado.
Um grupo de intelectuais europeus publicou carta aberta (semana passada) denunciando a “cultura do descarte do idoso” durante a pandemia. Isso ocorre também no Brasil, considera o gerontólogo. Todo preconceito de idade, que ele chama de ‘idadismo’, que já existia contra os idosos apenas aflora, aumenta com a questão da COVID-19.
A diferença do Brasil em relação aos países europeus é que lá a sociedade civil reage. Lá existem muitas organizações não governamentais (ONGs) falando pelo e com o idoso. Aqui em Ponte Nova ninguém fala pelo idoso, ao ponto do prefeito editar um decreto “proibindo” o idoso de circular em ônibus, lhe cassando um direito infraconstitucional, a pretexto de combater a pandemia. Depois de 03 (três) meses, o direito deles (idosos) voltou a valer desde o dia 03 de junho.
Kalache falou a verdade em entrevista concedida ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre (Rio Grande do Sul): “no Brasil, não temos ONGs, conselhos de idosos atuando de forma efetiva e eficaz, a começar pelo federal. Alguns conselhos estaduais e municipais ainda gritam um pouco, mas é abafado. No Brasil, a voz do idoso é silenciada”.
VERDADE SEJA DITA: o tratamento dado aos moradores do Asilo Municipal de Ponte Nova é de primeira qualidade, com atenção redobrada da jovem Rizza Maria Vitoriano (que sensibilidade!). Mas, os que estão fora dali são discriminados com piadinhas maldosas, nestes tempos de pandemia do coronavírus!