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BARATA PODE SER IMPORTANTE: NOJENTO OU NÃO?

                Ela é uma das maiores vilãs do mundo animal. Transmite doenças, adapta-se a qualquer ambiente, e, como se não bastasse, é feia. Poucos discordariam de aplicar este julgamento à barata. Mas há quem se esforce para mudar a imagem do inseto. Um grupo do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) prepara uma série de minidocumentários para provar que a cucaracha é importante na cadeia alimentar, fundamental para a limpeza de material orgânico e, além de tudo, pode até ter uma aparência simpática.

             Existe um confronto urbano entre o homem e a barata – destaca Roberto Eizemberg, que integra a equipe do projeto batizado de “Baratas: procuradas vivas ou mortas”. – Não queremos que ninguém crie o inseto em casa. Mas é importante saber como ele é necessário à natureza, e de que formas podemos controlar o seu crescimento populacional nos centros urbanos.

          O boom das baratas poderia ser evitado com ajuda de sua maior inimiga: a vespa. Ela põe seu ovo no interior da ooteca (estojo de secreção com ovos) da barata – uma estrutura de cálcio onde há dezenas de ovos. A larva da vespa, ao nascer, alimenta-se dos embriões da rival em gestação.

           A aliança do homem com a vespa seria bem-vinda. O crescimento das metrópoles tem assanhado as baratas. Já existem 200 delas para cada um de nós em São Paulo, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Biológicas. Afinal, com as cidades, aumenta também a produção de lixo, seu habitat por excelência. E, quando se trata delas, nenhum exemplar é desprezível. Uma barata deixa, em média, 750 filhotes em sua vida, produzidos em apenas um ano.

             Por isso, não precisa gritar: se flagrada por aí, a barata foge. Se capturada, ela aciona seus mecanismos de defesa. Entre seus recursos está a mordida (caso do inseto urbano), estridular (a emissão de um som agudo, comum entre as espécies silvestres) e o uso dos espinhos de suas patas, também visto apenas em algumas delas. Nem os inseticidas são muito eficientes, porque, quando usados em excesso, podem contribuir para a proliferação de um grupo mais resistente ao veneno.

                 O que não se discute é a capacidade de sobrevivência desse inseto. Não à toa há fósseis do animal de 300 milhões de anos – são, portanto, anteriores aos dinossauros. Em toda a sua trajetória, o inseto sofreu pouquíssimas adaptações em sua anatomia. O desenho das asas, por exemplo, é praticamente o mesmo. O futuro também não reserva ameaças à barata. Nem um ataque nuclear seria capaz de detê-las.

                 Desprezada pelo homem, a barata apetece ao paladar de aranhas, lacraias, sapos, escorpiões e pássaros. Tem, portanto, um papel inegável na cadeia alimentar. Mais amplo é o cardápio das próprias baratas. A impressão é de que qualquer objeto pode lhes servir de alimento. As espécies silvestres preferem raízes de plantas e fungos; as urbanas, plástico, isopor, madeira, materiais de fossas. Eventualmente podem apelar Eventualmente podem apelar para o canibalismo, quando a dieta tradicional é escassa ou sua colônia é invadida. A contaminação de alimentos com uma secreção, aliás, é uma das formas de a espécie marcar território.

Este é um artigo cientifico da UFRJ, livremente adaptado pelo autor deste espaço.