Após horas de exaustivo trabalho de combate às chamas, que consumiram 90% da área de 30 hectares do Sítio Jaqueira, em Alegre, região do Caparaó, no Espírito Santo, Newton Campos, proprietário da área disse emocionado: “a cura do planeta é plantar árvores, cuidar de árvores e da floresta”.A tragédia, ocorrida em setembro de 2020, não abalou sua convicção na urgência de reflorestar o planeta e a alma dos seres humanos. “Agrofloresta é a saída. Não existe outra saída para a humanidade”.
Agrofloresteiro, plantador de água, educador ambiental há 35 anos, membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Itapemirim desde seus primórdios e da Associação de Plantadores de Água (Plantágua), Newton Campos é referência na região e em todo o Estado no trabalho de recuperação de terra degrada e plantio de água por meio de agrofloresta, sendo convidado também em outros estados para palestrar e prestar consultoria sobre o assunto, trabalho feito também de forma online nesses últimos meses de pandemia.
Em janeiro de 2014, tive a oportunidade de conhecer o Sítio Jaqueira a convite do engenheiro florestal Davi Sena, filho de Dominguinhos (Espaço Café/Ponte Nova), que se formou no campus avançado da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em Alegre. O projeto de Newton Campos é algo formidável: planta água em barraginhas, cerca nascentes e constrói casas com tijolos jogados fora de casas derrubadas; a luz do sol atravessa as paredes através das garrafas de vidro, onde moram estudantes da UFES.
Plantei milhares de árvores ao longo da minha vida, salvei várias que seriam cortadas porque levantavam passeios; semeei sementes que voam, como as dos ipês e aguei mudas de ararutas na horta do Passa-Cinco, mas nada se compara a este cara. Ele joga capoeira e faz versos sobre meio ambiente, com a rapidez de seus gestos, apesar dos anos de luta. Às vezes, com resultados e outros nem tantos, vendo a sanha dos predadores.
Quando comecei a luta em defesa do meio ambiente, não raro, ouvia piadinhas como: “isto é coisa de viado; esse cara é contra o progresso”; “um idiota a mais para defender o que não precisa ser defendido”. Mais, tarde, a guerra foi mais dura: afastar as hidrelétricas do Rio Piranga no município de Ponte Nova. Conseguimos com legislação própria e ainda alcançamos vitórias em outros municípios, pois os empreendedores queriam construir várias e como não podiam construir em Ponte Nova desistiram das outras.
Levei para Alegre, no Espírito Santo, as experiências acumuladas em Ponte Nova e na região do Vale do Rio Piranga. Falei para centenas de pessoas, a maioria produtores, gente humilde que me ensinou como se faz uma banana caramelada, com o próprio açúcar da fruta, que fica exposta ao sol durante uma semana numa caixa de vidro, sem a parte branca, que é raspada. Terminei minha palestra, que não passou de uma conversa, usando uma velha e surrada frase que criei em 2001: “somos loucos, mas não somos tão poucos. Somos loucos pelo meio ambiente”.
Foto: Em Alegre, no Sítio Jaqueira gleba de 30 hectares de terra totalmente arborizado, na escentes ercadadas e barraginhas: Hélia, Ricardo Motta, Davi Sena, Carlili, Kelly, Ana Paula com amvbientalistas de Cachoeiro do Itapemerim, presentes em 02 de fevereiro de 2014